Enquanto isso...

Uma das palestras que mais marcaram a minha vida foi onde Padre Rufus afirmou que Deus muitas vezes se utiliza de instrumentos quebrados, pessoas aflitas: o publicano Mateus, Maria de Magdala, Zaqueu e até mesmo Barrabás.

Jesus foi condenado à cruz tendo à sua direita e esquerda dois terríveis ladrões. Os dois não seriam crucificados se não tivessem cometido inúmeros crimes considerados terríveis. Não sabemos quais foram os crimes, mas um ficou conhecido como o "bom ladrão" e o outro não. 

Um dos apóstolos - o traidor, segundo outros o predestinado, já que sem a traição dele o papel de Jesus na terra não estaria completo - também morreria, mas por suicídio, Judas. Este roubou os sonhos dos apóstolos e discípulos, ao trair Jesus. 

Aos olhos terrenos, um líder religioso executado pode soar como que um fracasso, mas a vitória do divino nos foi assegurada. Preso à cruz, Jesus fez a maior das suas pregações, ao resistir à sua última tentação: 

"Desça da cruz! Se for o filho de Deus, desça da cruz!"

Através de seu sacrifício divino, mesmo depois de 20 séculos, seu Reino atravessou gerações, impérios e guerras, e a semente plantada, em pouco mais de 100 gerações, atingiu um enorme rebanho de ovelhas.


Ovelhas negras

Mas curiosamente existia o terceiro ladrão, que foi liberto do cativeiro e se chamava Barrabás, que Cristo libertou através de seu sacrifício de Cordeiro de Deus.

Ao libertar Barrabás por sua morte, para depois ressurgir dos mortos, Jesus nos mostra o propósito divino de salvar os pecadores, principalmente, quaisquer que tenham sido os pecados cometidos.

A libertação de Barrabás tem duplo sentido, a libertação física e espiritual.

Quem foi Barrabás, todos nós conhecemos superficialmente a fama.

Mas quem foi Barrabás, renascido, renovado, como este personagem do filme "A Paixão de Cristo", não sabemos, é para nós totalmente desconhecido. Mas existem sugestões do que pode ter sido a vida desse homem.


Enquanto isso...

A primeira vez que ouvi falar algo sobre "a conversão de Barrabás" numa palestra do Padre Rufus, não dei muita bola, acabamos nem transcrevendo isso. Nessa época estava muito preocupado em entender o conteúdo de cura interior e libertação.

Depois ouvi a história de que Mel Gibson havia passado por um período difícil da vida e, em 2009, A Paixão de Cristo havia sido lançado.

Ao mesmo tempo ouvi nas palestras do padre acima que os gregos chamavam a paixão de Cristo de "loucura" e que cristãos da época eram considerados, de certa forma, e a palavra não é esta exatamente, mas "malucos" por amor.

De fato, pesquisando um pouquinho só, descobrimos um artigo da revista Reader's Digest de Portugal e um post da revista Mundo Cristão.

Espero que a leitura abaixo seja agradável aos seus olhos espirituais. 

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Mel Gibson: Guardião da fé

Numa entrevista exclusiva, Mel Gibson fala do percurso espiritual que conduziu ao seu controverso novo filme, A Paixão de Cristo.
Leia o artigo no site original: http://www.seleccoes.pt/mel_gibson_guardi%C3%A3o_da_f%C3%A9


A vida não pára de surpreender Mel Gibson. 

Há 12 anos, despertou para a compreensão de que alcançara tudo o que sempre desejara — excepto um sentido na vida. Olhou para os Oscars, para o dinheiro, para tudo o que a fama e a fortuna oferecem, e concluiu que tinha de haver mais qualquer coisa. O caminho que encontrou não foi menos surpreendente: levou aquele que fora o Homem Vivo Mais Sexy a regressar à fé da sua infância, a uma revitalização espiritual que, diz ele, o transformou profundamente.
Pode ter-se transformado, mas não deixou de ser Mel Gibson, por isso era provavelmente só uma questão de tempo até realizar um filme sobre o homem que se encontra no centro dessa sua transformação, Jesus. A Paixão de Cristo, que estreou nos EUA no fim de Fevereiro e em Portugal no dia 11 de Março, tornou-se noutra dessas surpresas cósmicas para Gibson. Poucos foram os filmes que geraram tanta publicidade e controvérsia antes da estreia. Alguns críticos consideraram-no excessivamente violento. Outros insistiram que o filme reflecte uma visão dura, mesmo anti-semítica, do papel desempenhado pelos Judeus na morte de Cristo.
As críticas feriram Gibson, que começou por tentar defender-se e depois optou por se remeter ao quase silêncio. Agora, nesta entrevista exclusiva, fala com a autora Peggy Noonan, franca e abertamente como nunca, sobre a sua fé, a sua família, o seu futuro e A Paixão.
Reader`s Digest - Porque quis fazer este filme e durante quanto tempo acalentou essa ideia?

Mel Gibson - Tenho estado a incubá-lo há doze anos. Creio que a ideia germinou numa época da minha vida em que andava numa verdadeira busca. Debatia-me com todas as perguntas do Hamlet de Shakespeare: «O que há do outro lado? Por que estou aqui?» Parte dessa pesquisa passou pelo despertar da fé na qual fui educado. Portanto comecei a explorá-la em livros, sermões e teologias. Comecei a falar com peritos. É curioso que muitas das críticas que me atiraram … partem do princípio de que apareci com isto de repente, saído do nada. Ao longo dos últimos doze anos, falei com milhares, literalmente milhares de estudiosos e exegetas da Bíblia. Não inventei nada, sabe.
RD – Que se passava consigo há doze anos para o levar a colocar todas essas perguntas do Hamlet e em seguida a redescobrir a sua fé?

MG - Geralmente estas coisas dão-nos em tempos difíceis, de sofrimento. Pode ter parecido que eu levava uma bela vida a fazer filmes e a voar pelo mundo inteiro. Mas a verdadeira felicidade está no íntimo. Eu tinha entrado em falência espiritual e, quando isso acontece, é como se um cancro do espírito nos afligisse. Começa a roer-nos por dentro, e se não fizermos nada para o travar, dá cabo de nós. Tive pura e simplesmente que traçar um risco na areia. Mas foi tanto uma decisão minha como sentir-me entre a espada e a parede.
RD – Levou muito tempo a ficar como queria?

MG - Ah, sim, claro. Este tipo de coisa não acontece do dia para a noite. É uma metamorfose muito gradual. E ainda falta muito para estar concluída. Ainda tenho tantas falhas!
RD – Pode explicar aos leitores o que significa a referência à Paixão em termos da vida de Cristo e do percurso da crucificação?

MG - Paixão. Trata de amor obsessivo. É todo o sentido da encarnação de Cristo — Deus feito homem. O objectivo do sacrifício foi expiar as transgressões de toda a Humanidade. Creio nisso, como biliões de outras pessoas. É esse o testemunho dos Evangelhos, e estes falam de amor. Falam de redenção e de um completo esquecimento de si por amor de todos os outros, que é realmente o vértice do heroísmo. Ele tomou sobre si o castigo para que nós tivéssemos uma oportunidade. É que, sabe, sozinhos não somos capazes.
RD – No que diz respeito à história cristã, A Paixão começa depois da Última Ceia, com Jesus a rezar no Jardim das Oliveiras. Acaba com as últimas palavras de Cristo na cruz.

MG - Sim. E no filme há um epílogo, uma espécie de ressurreição.
RD – O que significa a sua fé para si hoje em dia? Que papel desempenha na sua vida?

MG - Bem, não se vai longe sem ela. Penso que a próxima década será muito interessante e penso que nos espera uma fase muito agitada, a todos nós, em todo o Mundo. Por mim, creio que, quando atravessamos uma fase agitada, a fé é como pôr um cinto de segurança. Não que nos salve do que acontecer do lado de cá (risos), mas que nos permitirá transcender a loucura apelando para um poder superior.
RD – Se é verdade e se se acredita na verdade, fica-se-a salvo?

MG - Sim. E eu pus isso á prova, posso-lhe dizer. Porque na minha vida já fui um monstro. A fé nunca me deixou ficar mal, nunca. Nunca. Eu devia estar morto. Basta dizer, bem. Eu era do piorio.
RD – Houve alguém em especial que o tenha ajudado nessa jornada?

MG - Desde que nos conhecemos que a minha mulher, Robyn, foi sempre mais evoluída espiritualmente do que eu. Ela é um exemplo maravilhoso. No que diz respeito a esta lenta viragem de bordo, por assim dizer, acho que houve várias pessoas. Palavra. Foram como enviados do céu. Até pessoas que foram hostis para comigo foram benéficas.
RD – Como assim?

MG - Dão-nos uma oportunidade de praticar a tolerância, uma grande lição que eu preciso de aprender. Sou impaciente, e quando nos agridem, é muito fácil tentar devolver o golpe. Inseri no filme uma cena que tem especificamente a ver com o amor aos nossos inimigos.
RD – Ouvi dizer que o papa visionou A Paixão em privado. Fale-me disso.

MG - Sim, o papa João Paulo II viu o filme. Foi uma espécie de visionamento secreto, e o secretário dele relatou um comentário que ele fez na parte final do filme. Poucas palavras, muito simples mas direitas ao assunto. Disse: «Está como foi». Tem algo de Zen, não tem?
RD –Parece digno de se gravar em pedra. E qual foi a sua reacção?

MG - Fiquei aliviado porque é uma coisa assustadora. Como quando os filhos soltam amarras. Mas, em termos gerais, Billy Graham, Pat Robertson e agora João Paulo II … o que é extraordinário é que estão de acordo quanto ao filme. Vêem-no como um retrato fiel.
RD –Fale-me da grande controvérsia. Foi apanhado de surpresa com a oposição que o filme gerou desde muito cedo? Ficou admirado?

MG – Realmente, fui. Deixou-me um bocado de pé atrás. Esperava alguma turbulência, porque sempre que abordamos questões de religião e política, ou seja, assuntos que têm a ver com as convicções mais profundas das pessoas, vai-se agitar as águas. Mas foi uma surpresa ver tiros disparados à ilharga quando ainda estava a filmar e depois ter vozes a clamar nos jornais — gente que nem sequer tinha visto a obra — e a atirar-me lama para cima. Aliás, se este filme lhes causa problemas, não é comigo que os têm; têm problemas com o Evangelho, porque o filme segue o Evangelho muito de perto.
RD – Alguém sugeriu a talho de foice que você queria exactamente uma polémica assim para aumentar o interesse pelo filme. Há alguma verdade nisso?

MG - Já ouvi isso. Quando as muitas tentativas de me fazer recuar ou desistir falharam, começaram a dizer: «Afinal fizemos exactamente o que ele queria. Foi ele quem orquestrou a polémica para comercializar o filme.» Isso é tão mentira! Eu não pedi nada disto. Ninguém quer ver o nome enlameado nas primeiras páginas dos jornais, nem ouvir coisas horríveis sobre nós e a nossa família, ser chamado toda a espécie de nomes, acusado de ser anti-semita e tudo o mais.
RD – O seu pai. Li em alguns artigos que o seu pai tem convicções religiosas muito conservadoras e, segundo pelo menos uma dessas histórias, terá questionado parcialmente as versões comummente aceites do Holocausto. Tem algum comentário sobre isso?

MG - O meu pai ensinou-me a minha fé, e eu acredito no que ele me ensinou. Nunca na vida me mentiu. Nasceu em 1918. Perdeu a mãe aos dois anos, perdeu o pai aos quinze. Viveu a Depressão. Alistou-se para combater na II Guerra Mundial, foi para Guadalcanal, apanhou malária, foi alvo de balas e não gostou lá muito. Serviu o seu país combatendo as forças do fascismo. Regressou, trabalhou duramente, trabalho físico, fundou família, deu-me um tecto, vestiu-me, alimentou-me, ensinou-me a minha fé, amou-me. Eu amo-o. Portanto, estarei do lado dele até ficar feito numa nódoa negra se alguém tentar magoá-lo.
RD – Vai ter de tomar uma posição. O Holocausto aconteceu, não foi?

MG - Tenho amigos e pais de amigos que têm números marcados nos braços. O tipo que me ensinou espanhol era sobrevivente do Holocausto. Trabalhou num campo de concentração em França. Sim, claro. Houve atrocidades. A guerra é horrível. A II Guerra Mundial matou dezenas de milhões de pessoas. Parte eram judeus em campos de concentração. Muitas pessoas perderam a vida. Na Ucrânia, milhões de pessoas morreram de fome entre 1932 e 1933. No século passado, morreram vinte milhões de pessoas na União Soviética.
RD – Quer dizer, portanto, que a vida é trágica e cheia de lutas, violência, mal e maldade.

MG - Absolutamente.
RD – Muitos dos que viram o filme dizem que é forte, arrasador. Mas alguns dizem também que é demasiado gráfico e violento. Que tem a dizer sobre isso?

MG - É bastante cru e penso que é gráfico, sim. Mas creio que corresponde à realidade dos factos. Dos muitos relatos que li, penso que foi, aliás, mais violento do que aquilo que se vê no filme. Segundo os salmistas, já nem sequer se conseguia reconhecê-lo como humano. Foi tão mau como isso.
RD –Devo dizer-lhe que a minha imaginação de cristã nunca foi ao ponto de o imaginar chicoteado tantas vezes. Custa-me a crer que um ser humano pudesse sobreviver àquilo e ainda carregar uma cruz pesada por um monte acima.

MG - Sim, mas não estamos a falar de um ser humano qualquer (risos).
RD – Queria comunicar alguma coisa através da natureza muito gráfica do filme?

MG - Queria inculcar nos espectadores a enormidade daquele sacrifício, a disponibilidade — e o horror. Queria que fosse esmagador. Mas há válvulas de escape. Há pequenos oásis de repouso dentro do filme onde se pode escapar à violência e encontrar lirismo e beleza.
RD – Como quando intercala uma recordação de Maria, quando Cristo ainda rapazinho cai e ela corre para ele. Arranca-nos da narrativa e recua no tempo para um momento de amor.

MG - O filme é sobre isso. Sobre a maior expressão de amor. Não há amor maior do que dar a vida pelos seus amigos.
RD – Fez o filme nas línguas originais da época. Os diálogos de Cristo e de Maria são em aramaico. Haverá legendas?

MG - Achei que seria mais eficaz nas línguas originais. Isso proporcionou-me um estímulo extra para dar maior força ao aspecto visual, para não ficar dependente da palavra falada. E acho que o filme ganhou uma enorme clareza por causa disso. Mas penso que as legendas favorecem-no. Uma coisa é pregar ao coro, mas há muita gente que não conhece a história. E mesmo aqueles que a conhecem podiam ficar um pouco confusos.
RD – O que pretende fazer com este filme? Está a tentar afirmar-se enquanto artista? Está a tentar fazer proselitismo?

MG - Bem, o que eu vejo nesta história — e não há muitas exactamente como esta — é fé, esperança, amor e perdão. E penso que o Mundo precisa desesperadamente dessas coisas. Acho que estamos descontrolados. Praticam-se genocídios em locais nos quais raramente pensamos. Há guerras. Gente de cá a morrer longe. Gente de lá a morrer por causa dos de cá. Quer dizer, é uma loucura.
RD – E como é que o filme se encaixa nisso?

MG - Creio que mostra o remédio.
RD – E qual é esse remédio?

MG - Fé, esperança, amor e perdão. Julgo que quem quer que o veja terá uma reacção forte, seja positiva ou negativa. Espero que o filme seja recebido no estado de espírito correcto. Os meus detractores dirão que vai promover o ódio. Eu discordo. Acho que isso um disparate completo. É tão absurdo que me deixa siderado.
RD – Este filme é a grande obra da sua vida? O culminar da sua carreira?

MG - Absorveu muito do meu tempo e todos os meus talentos e energias. Acho que em termos artísticos é para mim definitivamente um marco.
RD – Vai tirar umas férias depois disto?

MG - Adoro trabalhar. Talvez tire umas semanas para recarregar as baterias, depois irei fazer outra coisa, na esperança de que seja algo leve e divertido e ninguém se zangue comigo.
RD – Qual seria a notícia que mais gostaria de ver no maior jornal da América no dia a seguir à estreia de A Paixão?

MG - A guerra acabou.
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MUNDO CRISTÃO

Convertido por um olhar

Ator italiano que interpretou Barrabás em "A Paixão de Cristo" escolheu servir a Deus durante uma cena com o protagonista

Da Redação / Fotos: Itaca, Icon (Divulgação) 
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Pode uma simples olhada mudar a vida de alguém? Segundo o ator italiano Pietro Sarubbi, sim. Ele interpretou o condenado Barrabás (na foto acima), a quem o povo escolheu anistiar e crucificar Jesus em seu lugar, no filme “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson.

Sarubbi era um homem de personalidade forte, que não temia desafios na profissão que escolheu desde a juventude. Quando garoto, fugiu de casa e pegou a estrada com a trupe de um circo. Com o passar dos anos, percorreu o mundo em busca de preencher o vazio espiritual que o afligia. Encerrou-se para ser instruído em artes marciais no mosteiro de Shaolin, na China. Em outro mosteiro, no Tibet, cumpriu voto de silêncio por 6 meses à procura de iluminação. Praticou meditação na Índia. Viveu por um tempo na rústica Amazônia (onde aprendeu português, que fala com facilidade). Como ator, trabalhou em várias peças de teatro e em filmes de tevê e cinema, italianos ou até de Hollywood – como “Capitão Corelli”, de 2001, com Nicolas Cage, Penélope Cruz e Christian Bale.

A despeito do longo caminho, chegou ao fim de sua busca pela paz quando foi escalado como Barrabás em 2003.


Encarando o chefe
O orgulhoso ator, ciente de seu talento, aceitou o papel, mas achava que podia conseguir algo melhor. Sem o menor temor, foi ter com Mel Gibson (foto ao lado, no set italiano). Queria um papel de mais peso. Queria ser o apóstolo Pedro, que julgava estar mais de acordo com ele.
Gibson, que já provara seu talento na direção com “Coração Valente”, o que lhe valeu dois Oscars (melhor ator e melhor filme na premiação de 1996), é famoso por se aprofundar nas pesquisas para seus filmes e ser bem decidido em suas escolhas de elenco. Para “A Paixão...”, baseou-se na aparência dos personagens em clássicas pinturas, como as de Caravaggio, e tinha seus Pedro e Barrabás bem formatados em sua mente. Não deu o papel do rústico “pescador de homens” a Sarubbi.

O ator italiano não quis se dar por vencido. Sugeriu ao diretor, então, que tivesse mais falas, o que lhe garantiria mais destaque na trama, ainda que sua aparição fosse breve.

Novamente, o “Máquina Mortífera” Gibson disse “não”. Para ele Barrabás não tinha mais voz, não tinha o que dizer. O diretor e produtor, que enfrentou a implacável indústria hollywoodiana para lançar seu filme (o que lhe rende dissabores até hoje), explicou melhor ao insistente intérprete: Barrabás não era simplesmente um bandido. Ele descendia de uma nobre linhagem de Zelotes. Foi preso por anos e, torturado, curvou-se ao sofrimento e tornou-se praticamente um animal, uma besta. “Ele usou todo o seu fôlego para gritar contra as inúmeras injustiças que sofreu”, explicou Gibson a Pietro. “Como a besta que se tornou, não tem mais palavras. Ele se expressa com o olhar. Por isso eu escolhi você, após muita pesquisa, para ser o meu Barrabás. Você deve parecer um animal selvagem e, ao mesmo tempo, alguém que olhe no fundo de seus olhos pode enxergar um ser humano bom. E esse alguém é Jesus. Só Ele vê, no fundo do olhar e do coração de Barrabás, que existe lá dentro algo que pode ser salvo. Mesmo que ninguém mais veja isso, Ele vê.”
Vencido pelos argumentos do chefe, Pietro não mais insistiu. Contudo, ainda se sentia desconfortável pelo papel. Até que viu o colega Jim Caviezel, que interpretou Jesus, antes da cena em que o povo perdoava Barrabás e condenava o Messias.

Dignidade
Caviezel conseguira o papel principal, que muitos atores desejavam, pelo desafio profissional que representava. Sarubbi viu o jovem já com cabelos longos, sem agasalho e pés descalços, no frio, pacientemente esperando sua vez de entrar em cena, concentrado. Podia muito bem ter reivindicado os privilégios de astro principal, como um trailer aquecido perto do set, mas estava ali, como todos os outros.
O ator estava caracterizado como Cristo, já com a maquiagem simulando as agressões sofridas. Embora muito sujo e com frio, Pietro viu muita dignidade e humildade no rapaz. Aquilo o impactou.
Pela primeira vez, ele mesmo, já caracterizado como Barrabás, barbudo, imundo e maltrapilho, descalço, também sentindo na pele o frio da Itália, sentiu seu personagem.


Primeiro olhar
Sarubbi viu Caviezel de longe, e ficou nisso mesmo, por um tempo, pois o diretor lhe dera uma ordem. Gibson disse que, mesmo quando estivessem perto, Pietro deveria evitar olhar o rosto do colega. “Eu quero que as pessoas percebam o impacto de Barrabás quando Jesus o fitar. Então tem mesmo que parecer o primeiro olhar, a surpresa. Aconteça o que acontecer, só olhe para Jim na hora certa que está no script. Quero que o seu olhar seja o daquele que vê Jesus pela primeiríssima vez. Barrabás é como um cão feroz, mas se torna um filhotinho quando encontra o Filho de Deus e é salvo.”
“Ação!”. Grita o diretor. Barrabás clama ao povo, grunhindo, por perdão. Mostra um riso nervoso, que demonstra ao mesmo tempo aflição e malandragem. Quase vai ao delírio ao se ver livre após tanto tempo, com prazer e desdém. Até que Jesus o encara, ternamente.
Finalmente Pietro olhou Caviezel no rosto, diretamente. Mas não foi exatamente a quem viu.

“Quando nossos olhos se cruzaram, foi um grande impacto. Senti como se houvesse uma corrente elétrica entre nós. Era como se eu não visse Jim Caviezel, mas olhasse para o próprio Jesus.”

A partir daquele momento, a vida do ator italiano nunca mais seria a mesma.



Nova criatura
Pietro converteu-se e aplicou a sua fé a todos os aspectos de sua vida. No relacionamento com a esposa e os quatro filhos. No trabalho. No caráter. O ator narra isso no livro que escreveu para falar de seu renascimento como filho de Deus, Da Barabba a Gesù – Convertito da uno sguardo(“De Barrabás a Jesus – Convertido por um olhar”).
Hoje, o ator é um homem dedicado à família. De vez em quando, veste-se como palhaço para divertir e dar muito carinho a crianças de orfanatos. Dá aulas em escolas para atores e para executivos que precisam falar bem em público. Em todos os lados de sua vida imprime sua fé. “Utilizo o que chamo de ‘o método do guerreiro, do sacerdote e do palhaço’: na vida é preciso ser forte e honesto, mas ao mesmo tempo brincalhão.”
“Barrabás é um símbolo de nossa civilização. É o homem que Jesus substituiu na cruz e salvou. Ele representa toda a humanidade, salva.”

A “corrente” que sentiu no set acendeu no coração de Pietro a luz de Deus.

“Nunca havia acontecido nada sequer parecido em todos os meus anos de carreira”, disse o ator numa entrevista a uma revista italiana. “Faço o possível para que aquele olhar continue sendo importante para mim todos os dias.”


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